quarta-feira, 7 de julho de 2010

Vitórias

Quatro anos. Parecia pouco tempo e, simultaneamente, uma eternidade.

Aos dezoito anos, tudo é ambíguo. Esta situação implicava que eu optasse por escolher um dos sentidos e aguentar com as consequências.

Como sou teimosa e gosto de colocar obstáculos a mim mesma para tornar a minha vida num percurso tumultuoso que me levará a pequenas grandes vitórias, decidi arriscar. Tinha a perfeita noção de que iria ser muito complicado e que o objectivo implicava alcançar uma fasquia possivelmente demasiado elevada. Mas deixei-me ir. E hoje estou mais feliz e realizada do que nunca.

Foi uma caminhada cheia de espinhos. Mas essas dificuldades só tornaram o prémio final mais aliciante. Sou estimulada pelas contrariedades, apesar de não lidar muito bem com elas quando surgem, vindas, aparentemente, do nada. Também eu sou um tanto ou quanto ambígua. Gosto de situações adversas, mas não paro de reclamar quando tenho que as resolver. No entanto, enquanto estou a digeri-las e disparo em todas as direcções, estou, ao mesmo tempo, já numa batalha árdua em busca de soluções.

Este caso não foi diferente. Ao fim de um mês, surgiu a primeira contrariedade e quis virar as costas e desistir. Típico. Mas quem me conhece sabe que não desistiria de jeito e maneira. Nem que tivesse que me sacrificar de uma forma nunca antes sequer equacionada. Ainda estou eu a praguejar e a deixar sair as barbaridades pela boca fora, já sei que não vou abandonar o barco enquanto não chegar a bom porto. Isso não me impede de continuar a disparatar, apesar de serem apenas desabafos que me espicaçam e impelem no sentido certo de continuar na batalha.

Muita coisa aprendi, a bem ou a mal. Não podemos dar nada por adquirido. Não somos invencíveis, nem o conhecimento é a fonte de todas as soluções. A sorte, o sangue-frio e a entrega completam o leque.

Não basta saber teorias, é preciso solucionar problemas práticos. Estas não são aplicáveis directamente à realidade, são uma fonte de abstracção e simplificação de uma existência extremamente emaranhada. E a maior lição de todas é que estas não são apenas conjunturas sem nexo nenhum. Elas são a base da nossa leitura da realidade. A partir da situação “fabricada” podemos entender como funcionaria o mundo se fosse perfeito e perceber melhor as suas falhas face ao paraíso. As teorias não são a solução, são o ponto de partida. Esse ensinamento nunca mais irei esquecer. E sinto-me muito mais rica do que os milhares de milhões de pessoas que as encaram como uma perda de tempo fantasiosa e ridícula. Aprender a pensar é uma ferramenta fundamental e eu sinto-me muito mais capaz de o fazer mais rapidamente e melhor agora do que há quatro anos atrás. Tanto é assim que os resultados começaram a melhorar com o passar do tempo, apesar da maior complexidade dos desafios propostos.

Hoje não sou mais nem menos do que era nem do que outra pessoa qualquer. Simplesmente sei mais do que sabia. Isso é ponto assente e faz-me orgulhar de cada pestana queimada, de cada hora perdida, de cada batalha de onde saí derrotada. Perdi anos de vida, mas ganhei anos de conhecimento. Não gozei o melhor lado da juventude, mas nunca será tarde para o fazer, talvez até de um modo mais responsável. Coloquei em risco as minhas capacidades sociais, desafiei todos os limites físicos e psíquicos, fui infeliz em muitas ocasiões e privei quem não merecia de uma companhia agradável. Tentei desdobrar-me e fazer tudo, numa busca insaciável de provar a todos e a mim própria que o meu maior valor é a capacidade de resistência. Não duvido que haja quem me acuse de desperdício de energia, de falta de experiência de vida e de ver um mundo cor-de-rosa. Não os culpo. Eu também faço julgamentos injustos.

No final desta aventura, a maior aprendizagem extra-curricular é que nada vale mais do que a nossa própria vida. Uma professora disse-me que nas horas de aflição procuramos a família e os amigos, nunca o trabalho. Isso demonstra o quão importante é darmos tudo aos outros e a nós e escolhermos sempre o lado que nos recompensa da melhor forma. Não há dinheiro que pague as vivências com as pessoas que mais amamos.

Hoje, sou licenciada em economia, hei-de ter um emprego que compense toda esta luta, mas porei sempre em primeiro lugar a minha família. É uma maneira de provar que aprendi a pensar. E o que quero mesmo é ser feliz e fazer com que isso passe para quem me rodeia.

2 comentários:

Unknown disse...

Nada melhor que a própria vida para nos ensinar tudo o que temos para aprender.Estás a aprender bem e depressa. Continua...

HugoPT disse...

Custou muito amor mas conseguiste! Parabéns!!!!!! passei por muito tb por tares na fac mas pronto teve que ser =P

Amt